Há 100 anos, em 8 de outubro de 2017, partia da Estação do Rossio, em Lisboa, o Presidente da República, Bernardino Machado, rumo a França, para aquela que foi a primeira visita de Estado do Presidente da República Portuguesa. O que motivou a viagem foi a visita aos militares portugueses que combatiam na Flandres francesa, em pleno conflito mundial.
O Presidente Bernardino Machado quis levar a esses homens a solidariedade de Portugal inteiro, numa época em que as dificuldades no País eram, também, muitas. Simultaneamente, durante os dezoito dias que durou a viagem, o Presidente português foi recebido pelos chefes de Estado dos diferentes países por onde passou a delegação presidencial: Afonso XIII de Espanha, Raymond Poincaré de França, Jorge V do Reino Unido e Alberto I da Bélgica.
A exposição Boa viagem, Senhor Presidente! De Lisboa até à Guerra - 100 anos da primeira visita de Estado traz novos e esclarecidos contributos sobre as motivações e os procedimentos dessa importante viagem, mas acima de tudo, 100 anos depois, importa continuar a evocar a memória dos milhares de portugueses que combateram nesse terrível conflito que mudou, para sempre, o mundo.
A exposição tem como figura central o Presidente da República, Bernardino Machado: o homem de família (teve dezanove filhos); o reputado professor catedrático que introduziu a cadeira de Antropologia na Universidade de Coimbra; o pedagogo que se bateu pela importância da instrução pública; o homem de cultura que, quando ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, patrocinou a fundação, em 1893, do Museu Etnográfico Português, hoje Museu Nacional de Arqueologia, pelo seu amigo José Leite de Vasconcelos (1858-1941); o político ativo cujo percurso, multifacetado, se desenrolou ao largo de várias décadas da história de Portugal.
A evocação da viagem, maioritariamente feita de comboio, dá-nos conta do percurso detalhado, das provas de simpatia e deferência por parte dos chefes de Estado estrangeiros, das visitas a hospitais e ambulâncias, das paradas militares, da passagem pelas zonas devastadas pela guerra, e do reconhecimento, pelo Presidente da República, dos sacrifícios dos soldados portugueses através da atribuição de cruzes de guerra, bem como da homenagem à cidade mártir de Verdun com a condecoração da Ordem Militar da Torre e Espada.
O núcleo «Os portugueses na Guerra» reporta-nos ao quotidiano na frente de combate, registado in loco pelo pintor Sousa Lopes; ao sofrimento do soldado português nas trincheiras; às fardas e calçado inadequados ao clima inóspito do teatro de guerra; às sinistras máscaras e aos capacetes; ao armamento; aos pequenos objetos produzidos pelos soldados, uns utilitários, outros testemunhos de fé; ao humor presente nas peças de teatro e nos poemas escritos. Um quotidiano que haveria de desenvolver um vocabulário próprio, que seria assimilado pela língua portuguesa.
O regresso a Portugal é revisitado através da memória da receção ao chefe do Estado organizada na cidade de Lisboa, onde marcaram presença elementos do Governo, deputados, corpo diplomático, autoridades civis e militares, representantes dos Bombeiros Voluntários e jornalistas, entre outras individualidades, bem como das manifestações populares que acompanharam o cortejo, que terminaria no Palácio de Belém, em cuja Sala Dourada Bernardino Machado receberia os cumprimentos.
Vídeo promocional da exposição.